segunda-feira, 23 de maio de 2011

Oração ao vento...













"Eu vos vejo, meninos do verão, em nossa ruína,
O homem em sua estéril condição de larva.
E os meninos estão inteiros e alheios no casulo."
Dylan Thomas.
 






Oh! Derradeira Estrela da manhã...
Trazes consigo o arder perene
Dos lugares longínquos e impossíveis,
Em que os homens nunca alcançarão,
Com tuas máquinas arcaicas,
Em sua inútil e falível tecnologia:
Sinônimo imperfeito da solidão!
Vem piedosa em ato solene...
Ao inconsolável habitat terreno,
Tão divinamente esquecido
Pelos resquícios dos afagos eternos.
Onde não há mais cânticos de evocação:
Que façam despertar, miraculosamente,
A escassa esperança e a dúbia fé...
No fatigado coração humano!
E que na tua finda e sublime jornada...
Onde se perderá o ingênuo engenho,
Nunca fora visto tamanho invento!
E não serão em vão...
Todas tuas súplicas e lamentos:
- Os ventos não cessarão, jamais,
Em vosso parco discernimento...
E embalarão, despretensiosamente,
Teus cabelos, no final dos tempos,
Espantando todos os teus tormentos!























imagem retirado do blog:

http://mangaepoesia.blogspot.com/2009/08/cata-vento.html



sábado, 21 de maio de 2011

Debaixo do Pé de Romã


















                                                       À Emília Rossetto







De não saber que tão feliz eu era...
E de lembrar sempre com alegria,
No simplesmente tomar o chá:
Tão doce de erva cidreira,
Com seu bolinho de fubá
Debaixo do Pé de Romã...
Jogando conversa fora!




De tardezinha...
Brincando eu, inocentemente,
De soldadinho ou de búrica,
Sob os olhos atentos de minha Avó:
Debaixo do Pé de Romã...
Sob sua generosa sombra:
Abrigando a derradeira infância,
E acalentava os sonhos impossíveis
Vindos do futuro sem demora!




Não mudei nada... Apenas continuo sendo
Aquele menino, ainda faceiro, e fico:
Debaixo do Pé de Romã...
Esperando, finalmente, o ocaso:
Aromas e sabores que não me saem
Das lembranças trazidas do outrora...
Faz-me sentir e não esquecer:
- Quão feliz sem saber eu era!











terça-feira, 17 de maio de 2011

Basta-me saber que vais contente!






                                        "Nas Tardes de verão, irei pelo vergéis,
                                     Picado pelo trigo, a pisar a erva miuda:"
                                                                                    Rimbaud






Meu coração vai alegremente
Por saber enfim: em algum lugar
Vai seguindo d’um modo contente
Já me basta sentir e então alçar:




E ir-me finalmente, andando...
Em pleno ledo desprendimento,
Sentindo minh’alma cantando
Por estar em meus pensamentos.



Não há agora melhor sentimento,
Acordar por fim... Distraidamente!
E tê-la em meu discernimento:
Seguindo feliz...  Intensamente!






sábado, 14 de maio de 2011

Fernando Oliveira: Aventura Transfísica:







































Nascemos casulos, morremos borboletas...





Imperceptivelmente acontece com raros mortais, 

que se fortificam da seiva da vida e absorvem 
todo o seu néctar e transcendem para uma nova dimensão. 
Isso não ocorre com os poetas, pois eles já nascem borboletas.
 E no caso de Fernando Oliveira (O Poeta das Vertentes), 
um fenômeno ainda mais raro se observa:
 ele se renova a cada instante, 
numa metamorfose descomunal que se fragmenta 
em sua eloqüência, sem perder originalidade, 
unidade retórica e independência em seu discurso poético,
 retratadas em seus vários eus. 
Fascina-me nesse poeta a sua absurda lucidez atemporal, 

que transgride as fronteiras limitadoras 
da nossa condição humana
 e despeja toda a sua voracidade poética 
em seus manifestos, sem perder jamais a sua sublime ternura. 
Sempre fiel a suas origens e a seu tempo, 
donde extrai suas infinitas essências, 
não fica acorrentado, nem estagnado a sua veia poética. 
Assim, sempre mantém sua eterna coerência, 
tornando-se universal nos seus temas. 
Sofre influências da clássica literatura, 

mas sem, no entanto, tentar levianamente imitá-la, 
o que talvez seja um dos fatores de ser mal-compreendido. 
Por sua audaz sinceridade incomensurável, 
expõe em demasia a sua sensibilidade poética, sem tentar, 
no entanto, amenizar alguma polêmica impregnada em seus escritos.
 Por esse motivo, a meu ver, não pode ser classificado impreterivelmente 
como um dos “Poetas Malditos”, como nosso genial Augusto dos Anjos, 
que falava com a língua, não a dos deuses, mas do povo. 
“Sombra convertida em lúmen. Palavra-carvão que, 

do longo sono da terra, acorda de repente diamante.” 
Essa definição poética de Fernando José Karl 
não poderia ter feito melhor descrição, com profundidade e exatidão, 
da gênese dos sentimentos humanos, de suas mais profundas entranhas. 
Transcritos na arte poética que brota naturalmente
 nas minas rochosas do inconsciente, é garimpada por raros poetas. 
E não falta ao nosso Poeta das Vertentes: a aptidão incrível, 
que consegue naturalmente – parodiando um dos nossos maiores críticos literários, 
Wilson Martins – “(...) dominar todos os vaticínios lingüísticos e conversa 
em pé de igualdade com os baluartes de seu tempo”.
Nesta aventura transfísica, tu és o garimpeiro dos incontidos sentimentos...






* Luís Antônio Rossetto de Oliveira
Poeta e Médico Cirurgião Plástico.
Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pela Unifesp-EPM
Autor do livro de poesia “A Rosa do Fim do Mundo” e de artigos científicos.